Dize-me quem consultas
DIZE-ME QUEM CONSULTAS...
A falta de perspectiva histórica dificulta a compreensão até da possibilidade de diferentes visões de mundo. Imagine-se então a dificuldade de compreender a idéia mais ou menos óbvia de que mesmo verdades podem mudar. Temos vontade de rir quando ouvimos que os antigos imaginaram que a Terra repousava sobre uma tartaruga, nós que aprendemos que a Terra gira ao redor do sol. “Como podem ter pensado isso, os idiotas?” pensamos. Você sabia que esta história dos quatro elementos nos quais hoje só acreditam os astrólogos foi um dia a verdadeira Física, a forma científica de explicar fatos do mundo, suas mudanças, por que corpos caem ou sobem? Antes da gravidade, os elementos eram soberanos! Vou contar duas histórias fantásticas. A primeira: na peça A vida de Galileu, Brecht faz o físico convidar os filósofos a sua casa para verem as luas de Júpiter com sua luneta. Mas, em vez de correrem logo para o sótão para ver a maravilha, os filósofos propuseram antes uma discussão “filosófica” sobre a necessidade das luas... Quando Galileu lhes pergunta se não crêem em seus olhos, um responde que acredita, e muito, tanto que releu Aristóteles e viu que em nenhum momento ele fala de luas de Júpiter! A outra história é a de um botânico do início da modernidade que pediu desculpas a seu mestre por incluir no livro espécies vegetais que o mestre não colocara no seu. Ou seja: mesmo vendo espécies diferentes das que constavam nos livros, esperava-se dos botânicos que se guiassem pelos livros, não pelas coisas do mundo. Era o tempo em que se lia e comentava, em vez de observar os fatos do mundo. Muita gente se engana, achando que esse período terminou, que isso são coisas dos ignaros séculos XVI e XVII. Quem tem perspectiva histórica sabe, aliás, que não se trata de ignorância pura e simples. Trata-se de ocupar uma ou outra