Disco - ruy castro
O disco ― ou algo do gênero
Ruy Castro
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Começou com um cilindro de cera que se enfiava num aparelho e, no começo, só servia para gravar mensagens vocais, tipo ditafone. Depois é que descobriram que se podia usá-lo também para gravar música. Um processo meio desajeitado, mas era música, do mesmo jeito. Então alguém teve a ideia de achatar o cilindro e transformá-lo num objeto plano, de dez polegadas ― mais ou menos 25 cm ―, feito de guta percha e cera de carnaúba, em cujos sulcos a música era gravada. Estava inventado o disco.
Música esta que se gravava por um fone que, na verdade, era um grande chifre de osso, dentro do qual cantores com pulmões de ópera e bandas como a do Corpo de Bombeiros tinham de berrar ou tocar com toda força, para que seus sons fossem mecanicamente impressos na cera. Só havia um microfone para todo mundo, o que significava que, se um errasse, era como se todos tivessem errado, e era preciso fazer de novo desde o começo.
Dali saía uma matriz, da qual se tiravam as cópias. Donde a cópia que se vendia na loja ―
o disco propriamente dito ― era, à sua maneira, um produto acabado, perfeito.
A princípio, esse disco só continha música gravada em um lado e girava a setenta e tantas rotações por minuto ― variava de acordo com a força que se dava na manivela que punha o objeto para rodar. Só depois fixaram a velocidade em 78 r.p.m. Em média, aquilo produzia uns três minutos de música, o que significava que, de três em três minutos, o ouvinte tinha de desgrudar-se da namorada, levantar-se da poltrona e ir ao gramofone para tirar aquele disco e botar outro para tocar. Esse disco, mesmo novo, chiava à beça, mas quase ninguém reparava ― não havia termo de comparação ― e, se caísse ao chão, partia-se ao meio.
Era o óbvio, mas demorou um pouquinho a ocorrer-lhes: aproveitar também a outra face do disco, gravando também uma música nela ― com o que, de estalo, duplicou-se a