Dias assim
Fernando precisava conversar. Foi com essa motivação que saí de casa para encontrar um amigo que via todo dia e que trabalhava na mesa ao lado da minha, era meu compadre e eu era fiador do apartamento dele. Fomos a um botequim no bairro de Santa Tereza. Ele chegou primeiro e já estava na mesa quando cheguei. Parei o carro e de longe vi um Fernando com um ar distante e saudoso, mas achei que fosse influência do lugar escolhido para o encontro.
Me sentei e ele já iniciou a conversa assim:
“Naquele dia, por toda parte, o que se via era uma vontade enorme de ir embora, pela total falta do que fazer no meio daquela multidão. Coloquei no rosto o reflexo de um sorriso permanente direcionado à todas as direções como um exercício de submissão e cansaço”.
Ele nem sequer havia me dado boa tarde e fiquei atordoado, mas achei que se tratava de algum poema novo que ele tivesse decorado, como sempre gostou de fazer.
Ele continuou:
“Fiquei parado como uma “coisa” que sempre esteve ali. Pensei comigo mesmo que o conhecimento que temos do mundo limita a capacidade de entender o que está à nossa volta. Com isso acabamos tentando fazer com que o mundo se adapte a nós, e aí está a origem de grande parte de nossas sensações, sejam elas quais forem”.
Olhando as pessoas ao seu redor, continuou a reflexão, sem me explicar nada.
“Sempre precisamos que o “mundo” se adapte às nossas idéias e aos nossos desejos. Com isso, agindo assim, ficamos expostos aos desvarios produzidos pelo egoísmo, e a febre produzida pelas frustrações! Nessa mesma direção corre o curso natural da vida. Às vezes ele corre rente, sem nos tocar. Às vezes nos tangencia. Corre longe de nós, corre ao contrário da direção que escolhemos. Vai devagar demais ou vai rápido demais. Por fim, sem nos dar qualquer sinal, não corre por um tempo, ou acelera e nos deixa pra trás quase que definitivamente”.
“Saber como agir nessas ocasiões é que faz de cada um de nós felizardos ou