dgallois 1
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Terras ocupadas? Territórios? Territorialidades?O CONTATO COLOCA UM GRUPO INDÍGENA DIANTE DE LÓGICAS
ESPACIAIS DIFERENTES DA SUA E QUE PASSAM A SER EXPRESSAS
TAMBÉM EM TERMOS TERRITORIAIS. AS DIVERSAS FORMAS DE
REGULAMENTAR A QUESTÃO TERRITORIAL INDÍGENA PELOS
Dominique Tilkin Gallois*
Problemas de terra continuam no foco central do noticiário desalentador que a mídia divulga a respeito dos índios no Brasil. Infelizmente, o público continua mal informado por notícias que apenas denunciam tensões, sem as remeter a uma história continuada de conflitos, cuja trajetória é não só muito bem documentada, como fundada nas próprias contradições da política indigenista brasileira.
O comentário que segue não se aterá à análise desses conflitos, nem à discussão dessas contradições, mas tratará de outras tensões, que surgem na intersecção entre o conceito jurídico de Terra Indígena e a compreensão antropológica da territorialidade concebida e praticada por diferentes grupos indígenas.(1) Territorialidade, como veremos, é uma abordagem que não só permite recuperar e valorizar a história da ocupação de uma terra por um grupo indígena, como também propicia uma melhor compreensão dos elementos culturais em jogo nas experiências de ocupação e gestão territorial indígenas. Como exercício, proponho distinguirmos entre os conceitos que sustentam as três formulações indicadas no título.
Parece, de fato, essencial evidenciar que o enfoque da mídia nos conflitos entre índios e ocupantes não-indígenas procura quase sempre caracterizar como provas de sua “aculturação” o engajamento dos índios em atividades antes monopolizadas pelos não-índios ou sua articulação à economia regional. Por exemplo, atividades de criação de gado, de garimpagem etc... são apresentadas como aspectos incongruentes com seus direitos territoriais. Temos aqui um problema na compreensão da dimensão cultural envolvida na territorialidade indígena: a imagem romântica de índios nomadizando por amplos territórios