Desigualdades Sociais
"Os homens preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda." (Marquês Maricá, 1773-1848)
Aurora Teixeira | EXPRESSO 7:00 Sexta feira, 5 de dezembro de 2014
Ontem, durante a sessão que teve por objectivo recordar Francisco Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa, Pedro Passos Coelho afirmava, eventualmente perturbado pela emoção do momento, que " [a] crise não trouxe mais desigualdade ".
Estando o Primeiro-ministro a referir-se à desigualdade de rendimentos, a não ser que exista um novo indicador para medir esta variável, a informação oficial disponível até à data demonstra, infelizmente, que Passos está, no mínimo, equivocado.
Explico de seguida o meu argumento.
Desigualdade de rendimento: métricas
A desigualdade de rendimento é uma das mais visíveis manifestações de diferenças nos níveis de vida no interior de cada país. Uma elevada desigualdade de rendimento implica, normalmente, um desperdício de recursos humanos reflectido no facto de grande parte da população estar desempregada ou presa numa 'armadilha' de empregos caracterizados por baixa remuneração e baixa qualificação. A desigualdade de rendimento entre os indivíduos é medida, em geral, por 6 indicadores:
- Coeficiente de Gini: baseia-se na comparação entre a proporção acumulada da população e a proporção acumulada do rendimento que recebem, variando entre 0 (perfeita igualdade - todos usufruem o mesmo rendimento) e 1 (desigualdade perfeita - uma pessoa detém todo o rendimento).
- S90/S10: o rácio entre o rendimento médio dos 10% mais ricos para os 10% mais pobres.
- S80/S20: o rácio entre o rendimento médio dos 20% mais ricos para os 20% mais pobres.
- P90/P10: o rácio entre o valor do limite superior do nono decil (ou seja, os 10% das pessoas com rendimento mais alto) para o primeiro decil.
- P90/P50: rácio entre o valor limite superior do nono decil (ou seja, os 10% das pessoas com rendimento mais alto) para a mediana.