Desejo, razão e érgon: o caminho para a eudaimonia segundo aristóteles
Michelle Vaz Antunes
A ética aristotélica é considerada eudaimonista não sem razão pois, para o filósofo, viver uma vida feliz é de extrema importância e, também, a noção de eudaimonia é o ponto de partida da moral aristotélica. A saber, a felicidade é uma atividade da alma humana a qual se amplia ao longo da vida – o que é contrário à noção de felicidade moderna, que toma a mesma como fragmentada - e que todos os homens tem o direito de alcançar. No presente trabalho faremos um rápido esboço sobre a questão da felicidade e sua relação com a função própria do homem, ou seja, a relação daquela com o érgon humano. Ao analisar a eudaimonia partindo da obra inerente ao homem, o Estagirita usufrui da noção de obra – érgon- do homem. Do ponto de vista ético, a eudaimonia é a finalidade própria do homem. O bem é encontrado no érgon do homem e todas as coisas cumprem sua finalidade ao realizarem sua obra inerente. Não obstante, acredita-se que o homem só atinge a felicidade autêntica conforme exerce sua função de modo apropriado. É através de seu érgon que o homem exprime o que é. A felicidade liga-se intimamente à satisfação de nossos desejos, todavia, essa satisfação busca por um acordo com a alma racional. Deve-se ter em vista que a racionalidade é o atributo que distingue o homem (como animal racional) dos outros animais. A eudaimonia não deve ser considerada um princípio que rege ações particulares em sua particularidade – isso é incumbência das virtudes, contudo expressa a realização do que o homem é, em sua essência, quando considerado como agente de qualquer atividade: “a obra do homem consiste num certo gênero de vida, quer dizer, na atividade da alma e em ações acompanhadas de razão” (EN, I, 1098a 10-15).
Com a teoria da mediania, o Estagirita propõe que o homem só é capaz de evitar os excessos indesejáveis das emoções quando o desejo escuta a alma racional, e isso se dá através da