Derrida e a linguagem
Ao afirmar que “não existe o fora texto”, Derrida assume que a linguagem é o habitat natural de toda sua atividade filosófica e literária. E não é para menos: a operação de desconstrução que o tornou célebre seria impensável sem os textos, os verdadeiros objetos da desconstrução. A quase totalidade de seu trabalho se dá sobre textos escritos por outros, sobre os quais ele se debruça para efetuar a característica desmontagem da estrutura e o conseqüente descentramento de sentidos já consolidados. Nesses textos, a identificação de esquemas conceituais armados pela linguagem clássica da filosofia é só um primeiro passo, pois o que lhe importa é escrutinar as dobras do tecido da escrita para encontrar textos que lá se escondem e desvendar feixes de significados pressupostos que de algum modo teriam permanecido implícitos e ocultos. Os textos estão, portanto, no ponto de partida, em toda a travessia e na chegada (sempre provisória) das empreitadas analíticas de Derrida. Com ele cabe perfeitamente dizer que ‘no início era o signo’. Não por acaso, é precisamente pelo signo que sua proposta de desconstrução da metafísica logocêntrica começa, e a vantagem de começar pelo signo é precisamente a de começar pelo que essa tradição sempre considerou como secundário. Começar por aí é colocar-se, de saída, já no desvio. Como não poderia deixar de ser para quem, no fundo, respeita a tradição, Derrida opera a desconstrução do signo tomando a terminologia de Saussure como ponto de partida.
O signo lingüístico constitui-se numa combinação entre o significante (a forma tomada como imagem acústica) e o significado (o conteúdo tomado como conceito), como se fossem dois lados de uma moeda. A função do signo é representar uma coisa, um referente, durante a sua ausência. Derrida, no entanto, além de se recusar a tomar o significado como uma unidade ou entidade separável do seu significante, considera que o significado não é mais que o significante posto em