Mestre
Rorty sugere que o pensamento ironista, em sua última fase, teria superado a dicotomia entre ironismo e teoria por meio da privatização de seu pensamento. Afirma no início que Derrida está para Heidegger assim como Heidegger está para Nietzsche. Teriam, Heidegger e Derrida, sido os leitores mais inteligentes e mais devastadores críticos de seus antecedentes. Travariam com seus antecessores uma relação dúbia de aprendizado e necessidade de ultrapassar. Derrida, segundo Rorty, aprendeu com Heidegger a importância dos fonemas, mas percebeu também que “a ladainha heideggeriana é apenas a de Heidegger, não do Ser ou da Europa” (p.209). Derrida pretendia, como proposta de ultrapassar a filosofia heideggeriana, descobrir “como escapar à tentação de se identificar com algo grande – algo como a “Europa” ou o “apelo do Ser” ou “o Homem”” (p. 209).
Segundo Rorty, tanto Derrida quanto Heidegger, apresentam dois momentos, um primeiro mais profissional e um segundo mais pessoal, sendo este último o que mais interessa ao autor. É o Derrida maduro que, segundo Rorty, “privatiza sua reflexão filosófica e, desse modo, elimina a tensão entre ironismo e teorização” (p. 213). Abandona a tentativa de argumentar com seus antecessores, buscando ultrapassá-los racionalmente, substituindo este projeto pela pretensão de fantasiar sobre estes antecessores, jogando com eles e dando livre curso às cadeias associativas que se originariam deste jogo. Estas fantasias, entretanto, não teriam qualquer moral ou uso público (político ou pedagógico). São estas fantasias que, segundo Rorty, “são o produto final da teorização ironista” (p. 214). Uma vez reconhecida a impossibilidade de conciliação entre o público e o privado, da total relação de continuidade ou causalidade entre estas esferas, mergulhar na fantasia privada parece ser a única possibilidade de adotar, teoricamente, um referencial para si próprio. É a única saída para o ironista buscar ir