Dermeval Saviani Texto
DOS DOIS ÚLTIMOS SÉCULOS
Dermeval Saviani
UNICAMP
Eixo temático: 1. Políticas educacionais e movimentos sociais.
Introdução
O objetivo deste trabalho é examinar a questão pedagógica na trajetória da formação de professores nos séculos XIX e XX no Brasil. É, com efeito, no século XIX, quando são instituídos os sistemas nacionais de ensino, que a formação docente emerge como um problema.
Contudo, se o problema se configura apenas a partir do século XIX, isso não significa que o fenômeno da formação de professores tenha surgido apenas nesse momento. Antes disso havia escolas, tipificadas pelas universidades instituídas desde o século XI e pelos colégios de humanidades que se expandiram a partir do século XVII.
Ora, nessas instituições havia professores e estes deviam, por certo, receber algum tipo de formação. Ocorre que, até então, prevalecia o princípio do “aprender fazendo”, próprio das corporações de ofício (SANTONI RUGIU, 1998). E as universidades, como uma modalidade de corporação que se dedicava às assim chamadas “artes liberais” ou intelectuais, por oposição às “artes mecânicas” ou manuais, formavam os professores das escolas inferiores ao ensinar-lhes os conhecimentos que eles deveriam transmitir nas referidas escolas. A partir, porém, do século XIX, a necessidade de universalizar a instrução elementar conduziu à organização dos sistemas nacionais de ensino. Estes, concebidos como um conjunto amplo constituído por grande número de escolas organizadas segundo um mesmo padrão, se viram diante do problema de formar professores, também em grande escala, para atuar nas referidas escolas. E o caminho encontrado para se equacionar essa questão foi a criação de escolas normais, de nível médio, para formar professores primários atribuindo-se ao nível superior a tarefa de formar os professores secundários.
Nesse contexto configuraram-se dois modelos de formação de professores:
a) modelo dos conteúdos