Democracia em florestan fernandes
Sugerimos em estudo anterior (Liedke Filho, 1977) que essa etapa da obra de Florestan divide-se em dois subperíodos, caracterizados pela vigência de hipóteses-respostas diferentes à mesma questão de fundo: a Hipótese da Demora Cultural (1954-1959) e a Hipótese do Dilema Social Brasileiro (1959-1965).
A Hipótese da Demora Cultural presente em textos como “Existe uma Crise da Democracia no Brasil?” (Fernandes, 1954, in 1974a) e “Obstáculos Extra-Econômicos à Industrialização” (Fernandes,1959 in 1974a), consiste na presunção de que, quando não é.. homogêneo o ritmo da mudança das diversas esferas culturais e institucionais de uma sociedade, umas esferas podem se transformar com mais rapidez do que outras, introduzindo-se um desequilíbrio variável na integração delas entre si. Quando isto ocorre, é óbvio que no período de transição se produzem atritos e tensões resultantes das próprias condições de mudança social. As expectativas de comportamento antigas e as recém-formadas coexistem, inevitavelmente, durante algum tempo, criando fricções nos ajustamentos dos indivíduos a situações que são por elas reguladas socialmente (Fernandes,1974a, p. 101).
Em “Existe uma Crise da Democracia no Brasil?” (1954, in 1974a), buscando responder por que a construção da democracia no Brasil era então, em seu entender, um processo incipiente, Florestan aponta a possibilidade de emergência de disnomias (irracionalidades) em setores da vida social, estereotipados em termos de tensões entre padrões recorrentes tradicionais de ação e padrões racionais emergentes de institucionalização e ação. Neste texto, tem-se, de um lado,