De Camões a J K Rowling
Dizem que uma das coisas mais incríveis no ser humano é sua capacidade de ser único, particular. Lógico! Até que a clonagem se torne um grande sucesso. Mas, por enquanto, não há a possibilidade de uma cópia perfeita de ninguém. Cada um é um só, com seus traços, trejeitos, impressão digital, gostos... Será? Cresci ouvindo de meus pais que eu poderia ouvir o estilo musical que preferisse, vestir as roupas que eu achasse mais legais, poderia escolher meus amigos, ler o que quisesse. Pasmem! Até minha religião eles me deixaram escolher (isso se quisesse ter uma). Daí, abri o portão e, ao colocar os pés na rua, percebi que eles não tinham me avisado que pessoas iriam torcer narizes, virar os rostos, cutucar umas às outras ou mesmo fazer alarde por minhas escolhas não serem as mesmas que elas fizeram. Ao que parece, vivemos em uma sociedade que evolui. No passado, escolhiam por nós a profissão que deveríamos seguir, as pessoas com quem deveríamos andar, os homens ou mulheres com quem deveríamos nos casar. Hoje não. Podemos escolher e traçar nossos caminhos. Afinal, somos únicos, não é mesmo!? Só precisamos nos lembrar que, em nossas escolhas, não podemos gostar muito de ler (seremos antissociais), não podemos usar roupas que não estejam nas vitrines mais famosas (seremos brega), não podemos ouvir funk, pagode ou tecnobrega, menos ainda assistir a novelas (seríamos povão demais). Temos o direito à escolha, mas se tivermos nervos de aço pra aguentar a pressão do preconceito. Certa vez, durante a graduação, ouvi uma professora dizer que preconceito só existe contra o negro. Tranquei a disciplina. Não irei relatar aqui todos os tipos de preconceito que existem nesse mundo porque são muitos. Mas o que quero é a consciência de que o preconceito está tão dentro de cada um de nós que nem mesmo respeitamos a individualidade do outro. Somos preconceituosos até com as escolhas de cada um, até com as nossas escolhas.