Davidson ARC
Bottom of Form
Ações, razões e causasa
Donald Davidson
Tradução de Marcelo Fischborn (Universidade Federal de Santa Maria)
Qual é a relação entre uma razão e uma ação quando a razão explica a ação, dando a razão do agente para fazer o que fez? Podemos chamar tais explicações de racionalizações, e dizer que a razão racionaliza a ação.
Neste artigo quero defender a posição antiga — e de senso comum — de que a racionalização é uma espécie de explicação causalb. A defesa sem dúvida exige alguma reelaboração, mas não parece necessário abandonar a posição, como muitos autores recentes insistem.1
I
Uma razão racionaliza uma ação somente se nos leva a ver algo que o agente viu, ou pensou que viu, em sua ação — uma característica, conseqüência ou aspecto da ação que quis, desejou, admirou, estimou, considerou ser seu dever, ser benéfico, obrigatório ou agradável. Não podemos explicar por que alguém fez o que fez simplesmente dizendo que a ação particular lhe interessou; temos de indicar o que na ação lhe interessou. Sempre que alguém faz algo por uma razão, pode, por isso, ser caracterizado por a) ter algum tipo de atitude favorável a ações de certo tipo e b) acreditar (ou saber, perceber, notar, lembrar) que sua ação é daquele tipo. Sob a devem ser incluídos desejos, quereres, impulsos, incitações, e uma grande diversidade de pontos de vista morais, princípios estéticos, predisposições econômicas, convenções sociais, e objetivos e valores públicos ou privados, na medida em que podem ser interpretados como atitudes de um agente que visam ações de certo tipo. A palavra “atitude” faz aqui um serviço solícito, pois precisa abranger não apenas traços de caráter permanentes, que se revelam nos comportamentos de uma vida inteira, como o amor por crianças ou o gosto por companhia barulhenta, mas também as mais efêmeras fantasias que impelem uma ação singular, como um desejo súbito de tocar o cotovelo de uma mulher. Em geral, as atitudes favoráveis não devem ser