David Hume

1700 palavras 7 páginas
1.
O génio maligno, que surge nas Meditações, é uma possibilidade muito remota; mas é uma possibilidade; logo, não podemos deixar de considerá-la. Mas quem é este génio maligno?
Este génio maligno é uma espécie de deus; é génio, porque os seus poderes são, supostamente, superiores aos poderes humanos; mas, por ser maligno, não pode ser o verdadeiro Deus, uma vez que Este é bom (ocupar-nos-emos da justificação desta crença mais adiante). Este génio maligno tem uma obsessão: enganar-me. É ele que me induz a acreditar que tenho duas mãos, que tenho um corpo, que há uma realidade exterior a mim, ou que 2 + 3 são 5. Mas tudo isto pode ser falso. Todos os meus pensamentos podem ser mero produto da acção maligna deste génio.
Isto não é tão implausível quanto pode parecer: de facto, é como supor que se vive permanentemente numa realidade virtual. Pode, inclusivamente, suceder que eu esteja enganado quanto ao meu corpo; talvez o meu corpo não seja aquilo que os meus olhos me dizem que ele é; talvez eu não tenha sequer um corpo — nem, se isso é verdade, olhos que me digam como ele é. Talvez eu não seja senão um cérebro numa cuba, que um cientista perverso se entretém a estimular, de maneira que eu pense os pensamentos e tenha as sensações que ele quer que eu pense e tenha.

2. Por vezes, quando duvidas de uma coisa tornas outra mais susceptível de crença. Por exemplo, se duvidas que estás a pé, acreditas mais facilmente que estás na cama. Se duvidas que as doenças são causadas por vírus e microorganismos, então torna-se para ti mais provável acreditar que são causadas por feitiços. (A ideia é que duvidar de uma coisa não te faz acreditar efectivamente numa outra, apenas estás mais perto de acreditar noutra coisa, que se torna mais plausível.)
Para cada uma das crenças que se seguem encontra outra possibilidade que se tornaria mais plausível caso as submetas à dúvida.
A terra é redonda.
A vida evoluiu da matéria inorgânica.
As outras pessoas têm mentes como a minha.

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