DADE MÉDIA, RENASCIMENTO E IDADE MODERNA: Um pequeno contraponto.
Emir Maluf1
O modelo social europeu da Idade Média é o feudal. Sua base ideológica é, basicamente, o medo: medo do que há fora dos limites do feudo, e medo do que há dentro do homem, de seus impulsos; medo do amanhã, do Dies Irae, daquilo que o tempo traz; medo do presente. O medo representa um dos grandes contrapontos entre a sociedade medieval e a moderna, surgida no pós-renascimento.
Fora do feudo as relações são incertas, não há proteção, não há segurança. O homem feudal ara sua terra em piedosa alegria, satisfeito com o cuidado garantido pelo Senhor da terra e com as bênçãos do Senhor dos Céus, e com a tutela onipresente da Igreja Católica, representante maior deste último na Terra e mentor ideológico de todo aquele mundo tão seguro.
A sociedade medieval era fechada em si mesma: provia suas próprias necessidades no universo exclusivo do feudo, e o estrangeiro, o estranho, era uma verdadeira ameaça à ilusão de segurança cultivada com esmero pelos aparatos ideológicos da época.
O Renascimento rompeu as fronteiras ideológicas do feudo que mantinham o homem em seus limites. Não que se tenham rompido todas as barreiras: elas apenas foram ampliadas. O telescópio é a invenção que melhor representa aquele tempo (MALUF, 1997), e os efeitos dessa ampliação de perspectiva foram percebidos em todos os campos do conhecimento. A Europa transbordou seus limites geográficos de influência, e passou a explorar outras terras e povos com a voracidade de lobos famintos.
Em contraste com a sociedade feudal, a sociedade renascentista européia é aberta: concebe o mundo como um campo livre para a expansão, conquista e exploração, seja em matéria de conhecimento, seja em matéria de conquistas territoriais. Mas o medo não acabou; apenas mudou e se transformou em angústia. A segurança do feudo cedeu lugar à insegurança de cidades infectas, sem saneamento ou esgoto, com enormes contingentes de pessoas exploradas