cultura
Levy-Bruhl admitia que a humanidade pudesse ser dividida entre aqueles que possuíam um pensamento lógico e os que estavam numa fase pré-lógica. Tal afirmação nãoencontrou qualquer confirmação empírica. Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro.
A coerênciade um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence. A compreensão deste problema está no livro de Claude Lévi-Strauss que refuta a abordagem evolucionista de que associedades simples dispõem de um pensamento mágico que antecede o científico e que, portanto, lhe é inferior. O pensamento mágico não é um começo, um esboço, uma iniciação, a parte de um todo que nãose realizou; forma um sistema bem articulado, independente deste outro sistema que constituirá a ciência, salvo a analogia formal que as aproxima e que faz do primeiro uma expressão metafórica dosegundo. Assim, ao invés de uma contínua magia, religião e ciência, temos de fato sistemas simultâneos e não sucessivos na história da humanidade.
A ciência não depende da dicotomia entre os tipos depensamento citados acima, mas de instrumentos de observação. Segundo Levi- Strauss, o sábio nunca dialoga com a natureza pura, senão com um determinado estado de relação entre a natureza e a cultura,definida por um período da história em que vive a civilização que é a sua e os meios materiais de que dispõe.
Sem estes meios materiais o homem tem que tirar conclusões a partir de sua observaçãodireta, valendo-se apenas do instrumental sensorial de que dispõe. Assim, não é nada ilógico supor que é o Sol que gira em torno da Terra, pois é esta sua sensação. Sem o auxilio do microscópio é impossívelimaginar a existência de germes, daí ser mais fácil admitir que as doenças sejam decorrentes da intromissão de seres sobrenaturais malignos. E, consequentemente, o tratamento deve ser formulado