cultura
O estruturalista francês Claude Lévi-Strauss definiu a principal tarefa da cultura como a de garantir a existência do grupo [sociedade] como grupo, e portanto desubstituir o acaso pela ordem e organização. O estruturalismo ― como se sabe ― segue o neopositivismo [método científico] à risca, e não existe, em princípio, nenhuma “contaminação” metafísica nestadefinição.
A cultura é eminentemente um fenómeno humano. Como tal, está intrinsecamente ligada à “substância humana” que podemos definir utilizando o conceito de “modos” de Espinosa. A “substânciahumana” seria, assim, determinada por três “modos”, a ver: a actividade, a sensibilidade e a inteligibilidade ― acto ou acção, sensibilidade e ideia. Estes são os “modos” humanos que determinam a“substância humana” que por sua vez determina a cultura, e em consequência desta, os valores.
Segundo o conceito modal de Espinosa, cada um dos “modos” referidos acima não existe no Homemisoladamente, mas só pode existir no Homem como componente interdependente dos outros “modos”. Se analisarmos o Homem num só dos “modos” ou vertentes citados, partiremos de um pressuposto errado; nãopodemos abordar a cultura a partir da sensibilidade e esquecendo a actividade e a inteligibilidade, ou em qualquer outra ordem dos três factores: o Homem terá que ser compreendido na totalidade dastrês componentes ou “modos”. Quando a inteligência (ideia) e a sensibilidade humanas convergem na acção, constrói-se a cultura e os valores.
Naturalmente que a cultura não é estática na medida emque diz respeito às comunidades humanas em contínua transformação ao longo da História. Contudo, a tentativa de garantia da coesão social tem sido sempre a prioridade da cultura como produção humana,independentemente da época histórica; se essa coesão social através da cultura foi sempre conseguida em todas as épocas, certamente que não aconteceu