Cultura
Turistas e vagabundos: os heróis e as vítimas da pós-modernidade
Convidando-me a fazer esta palestra, o Professor Hunter me pediu que "tentasse responder à pergunta sobre como a fragmentação, a desinstitucionalização e o subjetivismo (entre outros processos) que se desenrolam na vida social contemporânea são mediados dentro das estruturas da vida contemporânea". Ele também me disse "para passar além das abstrações e mesmo das obscuridades da `teoria'(...) para a experiência empírica e concreta dos verdadeiros seres humanos".
Foram instruções desafiadoras, e um desafio que eu não podia recusar, embora não possa ter certeza de que estarei à altura disso... Afinal, as filosofias dos filósofos, as sínteses dos sintetizadores, as teorias dos teóricos só revelam seu sentido (desde que o tenham) se encararam como tentativas ordenar o desordenado, simplificar o complexo, destemporalizar o temporário - sendo o ordenado, o simples, o extratemporal a "teoria", e sendo o desordenado, o complexo, o ligado à história a experiência em que eles, como os habitantes de seu tempo e lugar, estão imersos. As teorias tendem a ser recipientes claros e bem talhados feitos para receber os conteúdos limosos e lamacentos da experiência. Mas, para conservá-los aí, suas paredes precisam ser duras; tendem também a ser opacas. É difícil ver os conteúdos da experiência através das paredes da teoria. Muitas vezes se tem de furar as paredes - "desconstruí-las", "decompô-las" - para ver o que elas escondem.
Há mais uma razão por que achei o desafio difícil de recusar:
Charlottesville é a terra de Richard Rorty - o grande filósofo, talvez o maior que temos.
Mas o que é um grande filósofo? Costuma-se, comumente, medir a grandeza dos filósofos por sua destreza em ligar umas às outras as
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coisas pendentes, em concluir discussões, em pronunciar vereditos que resumem um ar de finalidade e, no mais, levar a filosofia a um fi m.