Crise economica
Rubens Ricupero; Luiz Carlos Bresser-Pereira; José Antonio Ocampo; Luís Nassif
Diante da crise financeira que assolou os mercados nos últimos meses, ESTUDOS AVANÇADOS recorreu aos préstimos de alguns de seus colaboradores para trazer ao leitor análises e críticas sobre as implicações desse episódio no mundo e particularmente no Brasil.
Deixamos aqui consignados os nossos agradecimentos aos professores Rubens Ricupero, Luiz Carlos Bresser-Pereira, José Antonio Ocampo e ao jornalista Luis Nassif pela presteza com que atenderam aos nossos pedidos de colaboração.
A crise financeira e a queda do muro de Berlim
Rubens Ricupero
Joseph Stiglitz observou que a crise financeira afetará o fundamentalismo de mercado com força devastadora comparável à que teve a queda do muro de Berlim sobre os destinos do comunismo. A imagem é poderosa, mas o que Stiglitz deixou de dizer é que a ligação dos dois episódios é mais que meramente simbólica. Um e outro constituem expressão da mesma tendência histórica e a queda do muro se insere, mesmo que de maneira indireta, entre as causas da crise financeira. Na verdade, o desaparecimento do contrapeso representado pelo socialismo ajudou a liberar as forças originadoras dos excessos financeiros que iriam desencadear o derretimento do sistema especulativo de anos recentes.
Quase nada se publicou sobre as engrenagens políticas e ideológicas da crise financeira. Chama a atenção o contraste entre a fartura de análises econômicas minuciosas da crise e a ausência ou inexpressividade de comentários dedicados ao quadro político-ideológico que tornou possível seu desencadeamento. A política aparece às vezes como pano de fundo referencial, mas pouco se fala sobre o processo pelo qual setores ligados às finanças conquistaram posição predominante no sistema político dos Estados Unidos e dos principais países ocidentais, colocando o Estado a serviço dos interesses financeiros de maximizar lucros com o