Criação heteronimica pessoana
A génese da heteronímia foi explicada pelo próprio Fernando Pessoa numa carta a Adolfo Casais Monteiro. A sua “pequena humanidade” foi o resultado de um problema psiquiátrico, denominado de histeroneurastenia. Associado a este, surge a tendência excessiva de Pessoa em simular, despersonalizar-se, o que se relaciona com o fingimento poético. Com a criação dos heterónimos, Pessoa quis criar nem mais nem menos do que personagens dramáticas. Caeiro, Reis e Campos são, então, personagens criadoras cujas emoções, cujos sentimentos e cujo pensamento não são os de Pessoa. Apesar de fictícias, são personagens autónomas.
Relacionar os Heterónimos
Alberto Caeiro Com Alberto Caeiro, Pessoa quis criar um pólo de referência para as suas outras personagens. Caeiro é o chefe de uma pequena companhia teatral que representa a sua peça no palco da poesia (drama em gente). Para todos eles, incluindo o ortónimo, Caeiro foi o mestre. O poeta de “O Guardador de Rebanhos” é autodidacta (aprende sozinho), de vivência simples e concreta. Alberto Caeiro recusa o pensamento metafísico, aderindo espontaneamente às coisas, tais como são, gozando-as despreocupadamente. A simplicidade da vida rural serve de exemplo a Alberto Caeiro e a Ricardo Reis, adeptos da aurea mediocritas (natureza mediana, equilibrada, perfeita, harmoniosa). O puro sensacionismo é aquele que é vivido por Alberto Caeiro, ao privilegiar as sensações oferecidas pelos diversos órgãos sensoriais. O “mestre” vive afirmando que “pensar é não compreender”. “Pensar incomoda como andar à chuva” e “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...” são versos de Caeiro que reflectem a sua anti-metafisica, afirmando o primado dos sentidos.
Ricardo Reis Ricardo Reis, tal como Caeiro, revela-se pagão aceitando a ordem das coisas ao gozar a vida, pensando o menos possível. Apesar de apresentar alguns pontos comuns com o seu mestre, Ricardo Reis faz um exercício de