Criancas Feiticeiras
22 a 26 de outubro de 2007, Caxambu, MG
ST 14
Do ponto de vista das crianças: pesquisas recentes em ciências sociais
Luena Nascimento Nunes Pereira
(CEBRAP /São Paulo)
Crianças acusadas de feitiçaria em Angola: economia e parentesco num contexto de pós-guerra civil
Introdução
O objetivo deste texto é o de fornecer um breve contexto e apresentar dados e análises preliminares sobre o fenômeno de acusação de feitiçaria a crianças e adolescentes, detectado principalmente nas províncias do norte de Angola (Zaire e
Uíge) e em Luanda, entre a comunidade Bakongo ali residente.
Acusações de feitiçaria a crianças e adolescentes têm emergido na África
Central, especialmente na República Democrática do Congo nos últimos 15 anos1. Em
Angola este fenômeno é mais recente e tem maior prevalência entre o grupo étnico
Bakongo2.
Angola conta com cerca de 10 grupos etno-lingüisticos. Os três principais:
Ovimbundu, Ambundu e Bakongo somam 75% da população angolana, que conta com
14 milhões de habitantes. Os Bakongo são pouco menos de 15%.
O grupo Bakongo localiza-se originalmente na fronteira norte de Angola com a
República Democrática do Congo (ou Congo Kinshasa, antes Zaire), estando também presentes na República do Congo (ou Congo Brazzaville). Outrora esta região compunha o antigo Reino do Kongo, formado no século XIV, que entrou em contato com os portugueses em finais do século XV. Vem desde esta época a cristianização desta parte da África Central.
Os Bakongo de Angola conheceram uma intensa sucessão de migrações na sua história recente, especialmente a partir da guerra de libertação (1961) quando um grande contingente se exilou no Congo Belga, atual República Democrática do Congo
(RDC), retornando para Angola após a independência (1975), especialmente para a capital, Luanda, fora de sua região de origem. Tem sido este grupo, então pejorativamente chamado de “regressado”, o foco de minhas pesquisas.
A maioria dos ex-exilados bakongo que voltou