Cravícula e carcanhá, a incidência do rotacismo no falar maranhense
2331 palavras
10 páginas
DELER | UFMARevista Littera, v. 1, nº 1, jan – jul 2010
CRAVÍCULA E CARCANHÁ: a incidência do rotacismo no falar maranhense
Gizelly Fernandes MAIA DOS REIS
Introdução
A língua, por sua natureza dinâmica, está em constante mudança, e esse processo, evidenciador do caráter heterogêneo das línguas, é o resultado de outro longo processo que o antecede – o da variação linguística. A variação e a possível mudança, como sabemos, podem ocorrer em qualquer nível de análise da língua: fonéticofonológico, semântico-lexical, morfossintático, discursivo.
Neste artigo, nos ocuparemos de um dos principais mecanismos de que dispõem as línguas naturais para operarem a mudança – a possibilidade de mudança de som. Em nosso caso, trata-se de uma variação linguisticamente não distintiva1 entre os segmentos /l/ e /r/, ou seja, a permuta do primeiro pelo segundo não implica diferença de significado, mas implica, no português moderno, diferenças sociais que levam à estigmatização dos falantes.
O rotacismo, um dos vários metaplasmos do português, consiste no uso variável das consoantes líquidas /l/ e /r/. O fenômeno foi estudado com base na realização dos vocábulos clavícula e calcanhar, em quatro municípios maranhenses, sendo considerados fatores sociais – escolaridade, idade, sexo e localidade – e um fator linguístico – a posição da consoante líquida lateral /l/ na sílaba, em coda silábica e em ataque complexo.
Muito embora tenhamos registros do rotacismo na língua portuguesa, na modalidade escrita, há ainda uma escassez de trabalhos elaborados com base em dados autênticos da língua oral, razão porque há uma grande necessidade de estudá-lo, para que se possa melhor descrever a realidade linguística brasileira, e, em particular, a maranhense.
Nessa perspectiva se insere nosso trabalho, com o objetivo de contribuir para o conhecimento da realidade linguística do Maranhão e do Brasil e, também, de aprofundar o
1
Para uma maior compreensão da