Crash! Entenda a Crise
Estamos no meio da maior crise econômica dos últimos 80 anos. E o fantasma da Grande Depressão dos anos 30 ressuscitou. E agora? Saiba como a história explica o que aconteceu. E o que será do nosso futuro por Texto Alexandre Versignassi
O preço delas não parava de subir. Era uma beleza: você aplicava o dinheiro que tinha guardado para dar entrada numa casa e, em coisa de 2, 3 anos, já tinha o suficiente para comprar a casa. À vista. Nunca tinha sido tão fácil fazer dinheiro. E, óbvio, todo mundo queria entrar nessa.
Não, não estamos falando de ações. Nem de nada que aconteceu recentemente. O assunto aqui é um mercado financeiro diferente: o das tulipas, que floresceu (hehe) na Holanda do século 17. Essas flores caíram no gosto dos nobres e endinheirados da Europa logo que foram trazidas da Turquia. As variedades mais raras eram cotadas a preços de fazer inveja a qualquer Rolex ou Louis Vuitton de hoje. A mais cobiçada era uma tulipa de pétalas cor-de-rosa, a Semper Augustus. Em 1624, um único botão custava o mesmo que um sobradinho no centro de Amsterdã (1 200 florins). E os preços iam subindo.
No começo da onda, os floristas só faziam negócios na primavera, quando os bulbos (as raízes de onde nascem tulipas) floresciam. Mas não demorou para que inventassem um jeito de manter o comércio o ano inteiro. Especuladores compravam bulbos dos floristas no inverno e ficavam com eles na esperança de que o preço subisse quando as flores descem as caras. Na verdade eles não levavam o bulbo para casa. Ficavam com um contrato (um “título”, no jargão financeiro) que lhes dava direito ao dinheiro que eles rendessem mais tarde.
Não demorou e passaram a comercializar os próprios contratos. Um investidor que tivesse pago 1 200 florins por um esperando que o bulbo subisse de preço às vezes preferia vender a algum interessado no ato por 1 300 do que aguardar até a primavera. Esse outro sujeito podia achar alguém a fim de pagar 1 400 e vender de uma vez