Fixação de cargas
PARECER DE ESPECIALISTAS
Professor do Instituto de Relações Internacionais do Departamento de Ciência Política da USP e pesquisador
Quando a imprensa internacional passou a anunciar a magnitude da crise mundial, iniciada no último trimestre de 2008, os prognósticos eram de que estaria por vir a maior recessão da história econômica depois da quebra da bolsa de valores de 1929. A forte diminuição do comércio internacional, na contramão de um longo ciclo de internacionalização econômica, tenderia a aprofundar o quadro de recessão econômica.
Um dos impactos mais negativos da crise, nessa linha de avaliações pessimistas, seria um grande retrocesso na regulamentação internacional do comércio em face da reemergência do nacionalismo econômico, adoção de políticas comerciais protecionistas por parte dos países mais afetados, adoção de medidas restritivas ao investimento direto estrangeiro e paralisia das grandes negociações de comércio internacional em curso à época.
Um ano após o seu período mais agudo é possível ter um quadro parcialmente mais decantado sobre os impactos da crise sobre o comércio internacional e sobre os processos de negociações comerciais. É certo que alguns impactos de médio ou longo alcance, sejam eles positivos ou negativos, ainda estão por se expressar, como, por exemplo, as mudanças no plano da governança global de comércio e finanças. Outros impactos decorrentes da crise, contudo, já estão suficientemente consolidados e merecem análise mais detida.
Este artigo dirige-se especificamente a apresentar um breve balanço dos impactos da crise financeira mundial de 2009 sobre o comércio internacional, mais especificamente sobre a evolução dos processos de negociações internacionais em curso. O artigo está subdividido em três partes principais. A primeira apresenta um balanço dos impactos da crise financeira no comércio internacional. A segunda parte dedica-se a analisar a repercussão da crise num plano das