Essa doença crônica chamada racismo A Restinga é um dos bairros mais populosos de Porto Alegre. Sua população é de 51.560 moradores. Sua formação, que se deu nos anos 60, tem a ver com a urbanização da cidade, e tem a ver também com exclusão social. Foi lá que nasceu Paulo César, o Tinga, que aos 19 anos de idade, foi encontrar dona Nadir, sua mãe, no serviço, para lhe dar a boa notícia de que ela não precisaria mais trabalhar de faxineira, profissão cujo salário foi, mesmo aos trancos e barrancos, suficiente para criar seus quatro filhos sozinha. Tinga agora ganharia seu primeiro salário como jogador de futebol profissional: 2.500 reais, que poderia não ser muito, mas que já era o bastante para dar a sua mãe o merecido descanso. De lá pra cá, o menino só cresceu. Hoje com 36 anos joga pelo Cruzeiro, mas já passou pelo Grêmio, Internacional, e pelo time alemão Borussia. Tinga nasceu com os olhos brilhantes, deu à dona Nadir uma vida confortável e aos seus irmãos um futuro melhor. Tinga mostrou ao mundo a que veio através de seu empenho em mudar a realidade em que vivia, através de sua nobreza e orgulho de si mesmo. Nada disso, porém, foi suficiente para mudar o preconceito, que nos estádios de futebol emerge os sentimentos levianos que o ser humano é capaz de expor quando em multidão. E foi com tal nobreza e orgulho que citei anteriormente, que Tinga reagiu de maneira equilibrada depois dos xingamentos e insultos da torcida peruana do Real Garcilaso, há algumas semanas atrás. Um bando de pessoas boçais imitava macacos a cada vez que Tinga pegava na bola durante a partida, em dos episódios mais revoltantes de racismo já perpetuados pelo futebol. “Eu queria não ganhar todos os títulos da minha carreira e ganhar o título contra o preconceito contra esses atos racistas”, disse. “Infelizmente, aconteceu. Joguei vários anos na Alemanha e isso nunca aconteceu. Agora, em um país vizinho ao nosso, onde existem