Cr Nica De Costumes
N’Os Maias, a intriga trágica entrelaça-se com a crónica de costumes. O título – Os Maias – liga-se à história trágica; o subtítulo – Episódios da Vida Romântica – sugere o retrato da sociedade, feito criticamente e com fina ironia.
A estrutura d’Os Maias obedeceu prioritariamente à vontade de Eça fazer uma desenvolvida crónica da vida social lisboeta do seu tempo, embora integrando-a na história de uma família.
A intriga apresenta dois planos de ação: uma secundária, que envolve Pedro e Maria Monforte; e uma ação principal centrada na relação entre Carlos e Maria Eduarda, que culmina com o processo de amores incestuosos e a sequente morte trágica de Afonso da Maia.
São diversos os ambientes que permitem o contacto com múltiplas cenas e casos típicos da vida e da sociedade romântica da época da Regeneração: o jantar no Hotel Central, as corridas de cavalos, o jantar em casa do Conde de Gouvarinho, o episódio na redação do Jornal "A Tarde", o sarau literário do Teatro da Trindade.
O Jantar no Hotel Central permite abordar a crítica literária e a literatura, a situação financeira do país e a mentalidade limitada e retrógrada. Aí retrata-se a polémica que marcou a Questão Coimbrã, na discussão de Ega e por Alencar, respectivamente defensores do Realismo/Naturalismo e da moral do ultrarromantismo.
As Corridas são uma verdadeira sátira ao desejo de imitar o que se faz no estrangeiro, por um esforço de cosmopolitismo, e ao provincianismo do acontecimento. As Corridas no hipódromo permitem, igualmente, apreciar de forma irónica e caricatural uma sociedade burguesa que vive de aparências. São um pretexto para Eça de Queirós, uma vez mais, satirizar a mentalidade e o comportamento da alta burguesia lisboeta, onde se percebe um verdadeiro contraste entre o ser e o parecer.
No Jantar dos Gouvarinho, as conversas permitem observar a degradação dos valores sociais, o atraso intelectual do país, a mediocridade mental de algumas figuras da