Cotidiano no Brasil no período imperial
Apesar do clima tropical, os brasileiros adotaram vestimentas à moda inglesa (masculina) e francesa (feminina). As cores vivas, tão comuns aos costumes coloniais, também tendiam a ser substituídas pelo sóbrio preto. Paralelamente à vinda de europeus, assistiremos, principalmente durante a segunda metade do século XIX, a uma migração de costumes. Em todos os aspectos do cotidiano brasileiro procurou-se imprimir a marca europeia. No café da manhã, por exemplo, o pão "francês" substitui a mandioca cozida, enquanto, no almoço, a cerveja começa a ser registrada, e, na sobremesa, os sorvetes disputam, palmo a palmo, com centenários doces, cujas receitas foram transmitidas de geração a geração nas fazendas açucareiras coloniais. As formas de tratamento também não ficam imunes a essas mudanças: expressões tradicionais, portuguesas ou resultados da influência africana, como dona, sinhá ou yayá, dão lugar a denominações afrancesadas, tipo mademoiselle ou, mais popularmente, madame. No vestuário, apesar do clima tropical, adotam-se a lã e o veludo como padrão, em roupas sobrepostas, como no caso das saias compostas por três camadas de panos. As cores vivas, comuns a essas roupas e aos objetos de uso diário colonial, também tendem a ser substituídas pela sisuda e puritana cor preta - quase luto fechado, conforme sublinha Gilberto Freyre. Nas cidades, os antigos sobrados e casas-grandes dão lugar a chalés ou a construções de inspiração neoclássica, enquanto nos jardins substituem-se as antigas espécies nativas, como a maria-sem-vergonha, por exuberantes roseiras, ao fundo acompanhadas não mais por canários-da-terra, mas sim por seus rivais belgas... Nem mesmo o submundo da prostituição escapou a esse afã de ser europeu, sendo para tal fim organizado um "tráfico" sistemático de "polacas", russas, austríacas, francesas e italianas, "mulheres de má nota" no dizer do poeta, que, independentemente da nacionalidade, eram cobiçadas