Cortázar e a palavra de eros
Um tema de Cortázar, que acreditamos, foi pouco tratado e que, no entanto, se apresenta constantemente, é o erotismo. Em Último Round, Cortázar lamenta a ausência do eros ludens na literatura escrita em língua espanhola e sua denúncia recai sobre a incapacidade dos autores em geral (inclusive dele) de integrarem-se na existência do erótico, fomentando tabus e eufemismos e utilizando um excesso de puritanismo que dilui e falseia a clara eloqüência erótica de um olhar, de um gesto, de uma intenção (às vezes apenas perceptível na extremidade dos dedos). ). “En toda mi obra no he sido capaz de escribir una sola vez la palabra concha que por lo menos dos ocasiones me hizo más falta que los cigarrillos”. (CORTÁZAR 1984 p.83).Para ele, esse comportamento não é senão a demonstração de uma pureza, na verdade, insuportavelmente alienada. O Cortázar que buscamos é um Cortazar imbuído de um olhar expressivo que, diante do impasse gerado pelo fracasso da linguagem para revelar os meandros da sexualidade, instaura uma moral que exige o gozo como forma libertadora dos antagonismos e desencontros e postula a liberação de Eros das múltiplas regras acéticas impostas pelo cristianismo e pela “Gran Costumbre”. Para Cortázar o erotismo constitui uma viagem do sêmem ao sema numa jornada que se constitui plenamente do olho à glândula pituitária cujo caminho é traçado por uma lógica prudente: a inteligência O que une os textos aqui trabalhados é uma observação minuciosa e perversa do desejo humano. Veremos como dentro da diversidade natural do olhar, existe um olhar erótico que, além de sua vicária singularidade, se apresenta sustentado pela transgressão. Constataremos, então, que ao burlar a convenção do desejo puro, os excessos se tornam verdadeiros dispositivos da sexualidade e da