Corrupção
HOBBES E O ESTADO
O que aconteceria se não estivéssemos de algum modo obrigados a respeitar as leis civis, se cada um pudesse agir como bem entendesse, conforme apenas a própria vontade e segundo o próprio juízo? E, havendo leis, será que seriam respeitadas se não houvesse um poder coercitivo, tal como o do Estado, nos forçando a obedecê-las? Pois, quando percebemos que os outros não respeitam as leis, não nos sentimos justificados para também infringi-las, de modo que, na falta de um poder que as faça respeitar por todos, deixamos de reconhecer leis comuns e pautar nossa conduta por elas? O que aconteceria, enfim, se não houvesse um poder coercitivo, impondo leis aos homens e fazendo com que sejam respeitadas por todos?
A essas perguntas Thomas HOBBES respondeu que, na falta desse poder, não haveria leis comuns, e, na falta delas, os homens se encontrariam numa condição de guerra de todos contra todos, numa situação em que não haveria lugar para a indústria, nem para a agricultura ou para a navegação, como também não para as ciências e as letras, e nem mesmo para a sociedade. Pior que isso, acrescenta ele: viveríamos num constante temor uns dos outros, com medo da morte violenta. E a vida seria “solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta.” (Leviatã, cap. XIII)
Dessa suposição, Hobbes retira a conclusão de que temos boas razões para vivermos sob o jugo das leis instituídas e impostas pelo Estado, um bom motivo para nos submetermos a um determinado poder político, a um homem ou conjunto de homens com poder de fazer leis e governar. É o que temos que fazer para escapar daquela situação de miséria. E é para nos convencer disso que Hobbes escreveu o Leviatã, como um convite à obediência civil.
Desde o tempo em que o Leviatã foi publicado, uma certa desconfiança pesou sobre esse raciocínio. Os homens seriam então tão maus a ponto de não conseguirem se