Conto "UM APÓLOGO" de Machado de Assis
A fábula escrita pelo Bruxo do Cosme Velho, Um Apólogo, é considerada uma das mais lidas e atuais de sua lavra. O texto simples, escrito na década 80, do século XIX, traz um recorte interessante da sociedade da época e muitas inovações do ponto de vista narrativo.
1.1 O INUSITADO FOCO NARRATIVO
Se a base de todos os textos de caráter narrativo é o narrador, sem ele naturalmente não há estória, Machado de Assis (doravante MA) faz uso de um narrador que no princípio é onisciente: “Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:” (1º§).
Os leitores de Um Apólogo, no entanto, podem se deparar com elementos do tipo: “Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa” (16º§, grifos nossos), indicando aí uma participação ou, no mínimo, uma intromissão do foco narrativo.
Da mesma forma, acontece no penúltimo parágrafo (23º§, grifos nossos): “Conteiesta história (...)”, e só então é percebido que a estória toda fora narrada a outra pessoa – um emblemático professor de melancolia –, tratando-se de uma mescla entre o que está sendo narrado no tempo psicológico (narração-onisciente) e no tempo cronológico (narração-participante ou intromissão do narrador).
Não bastasse essas inovações, MA faz uso de um narrador irônico, no pequenotrecho: “(...) entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética.” (16º§). Como crítico do romantismo que era na fase realista, Machado distrai os leitores com uma intromissão do narrador, citando a deusa grega, com seus cães caçadores, para criar uma imagem que representasse a costureira em ação, com a agulha e a linha. “Somente” para dar ao texto uma tonalidade poética, já que estava muito crua, muito fanfarrona, muito desgastada com o atrito das duas personagens principais até então. Ironia à parte, o fragmento também se configura como uma intromissão do narrador.
1.2 OS PEQUENOS-GRANDES PERSONAGENS
O texto machadiano apresenta dois personagens principais