Contabilidade
Até hoje permanece o mistério de como Joaquim Soares da Cunha deixou esse mundo, mas também pouco se entende sobre a vida que levou e as escolhas que fez.
Um funcionário público, esposo e pai exemplar, de vida monótona e estável. Esse era Joaquim Soares da Cunha, que certo dia, ninguém sabe por que, aos 50 anos deixou tudo isso para trás e virou um dos maiores malandros de Salvador. E foi ai que ele morreu pela primeira vez, Joaquim parou de existir para a família e para a sociedade tornando-se então Quincas Berro D’água.
Um homem que era amigo de todos, filho de marinheiro que jurava ter nascido pra isso e só morreria no mar, amante de Quitéria do Olho Arregalado e dono dos becos da Bahia. E assim vivia Quincas, até que um dia foi encontrado morto na pocilga onde morava, os vizinhos logo trataram de avisar a sua família, a família que já tinha o considerado morto. Vanda, sua filha, foi até a pocilga onde Quincas morava, e encontrou o pai lá, deitado, morto com um sorriso irônico no rosto. Aquele não era o defunto de Joaquim Soares da Cunha, era o de Quincas Berro D’água, um malandro sem família. Então, Vanda junto com seu esposo Leandro e seus Tios Eduardo e Marocas resolveram dar um jeito nisto. Trataram de comprar roupas e sapatos novos e logo Quincas estava irreconhecível, voltará a ser Joaquim. Eles decidiram também que não haveria velório, apenas no dia seguinte eles enterrariam o falecido, espalhariam para sociedade que ele havia morrido no interior e convidariam a todos depois para a missa de sétimo dia. Enquanto o amanhã não chegava, eles decidiram viajar o defunto revezando-se entre turnos de dia e noite, o dia para as mulheres e a noite para os homens.
Vanda não deixou o quarto nem por um instante, ficou relembrando o passado, tentando imaginar o motivo dele ter partido. Até que ouviu a voz do pai : -Jararaca! , ficou atônita, sem entender direito como, tinha ouvido o morto falar a última palavra que