Considerações sobre a violência doméstica- mulher: vítima ou responsável?
Rafaelle Oliveira Costa
Resumo
A partir do contato com o trabalho realizado em uma Casa Abrigo de proteção a mulheres em situação de violência doméstica este artigo discute alguns atravessamentos existentes no processo de abrigamento. Aponta-se, portanto, a noção de sujeito na perspectiva psicanalítica, a noção de cidadão bem como o sentido do trabalho social e a lógica proposta pelas políticas Publicas que tem como foco o combate da violência contra a mulher. São apresentados os contrapontos existentes entre a escuta analítica nas instituições e a proposta do trabalho social dentro deste contexto onde se observa que escuta inserida nas práticas de atenção psicossocial é regida pela proposta de reabilitação psicossocial dirigidas ao sujeito, o que culmina no distanciamento da ética do desejo.
Palavras-Chave: posição subjetiva; responsabilização; sujeito; vítima; violência.
Introdução
A violência contra a mulher tem sido um tema amplamente discutido na atualidade. Denúncias, assassinatos, atentados, ameaças e torturas chegam com grande freqüência às delegacias e as instituições que acolhem a mulher nesta situação. Na mídia este assunto tem ganhado um espaço significativo o que por sua vez, permite um maior conhecimento da sociedade dos direitos e dos serviços de proteção oferecidos à mulher que se encontram sob as condições de violência. Verifica-se, no entanto, que em tal relação, a mulher, em certa medida, contribui subjetivamente para que este vínculo se estabeleça e se mantenha. Nota-se, a partir disso, que a sociedade tende à vitimizar a mulher inserida neste contexto. Nesta perspectiva, as políticas públicas carregam uma ideologia que corrobora com a noção de mulher vista somente enquanto vítima na relação de violência. Reconhece-se que a noção de trabalho social vigente é aquela em que não é dado ao sujeito um espaço para a fala, ocupando este,