como funciona A GELADEIRA
Conquistas não eliminaram velhos hábitos brasileiros
São Paulo
Nós, brasileiros, sofremos de uma curiosa disfunção cognitiva, que incide sobre a população com a mesma frequência que a intolerância à lactose, entre os japoneses, ou a inclinação para os trocadilhos, entre os ingleses. Falo da nossa capacidade de nos indignar com a corrupção alheia ao mesmo tempo em que ignoramos completamente os próprios desvios. Conforme o segundo turno das eleições presidenciais se aproxima, dia 26, o mal se alastra como uma epidemia.
Nos bares, nas ruas e nas redes sociais, defensores de Dilma Rousseff, do PT, candidata à reeleição, e do senador oposicionista Aécio Neves, do PSDB, não se cansam de apontar o dedo uns pros outros e relembrar as roubalheiras em que o partido rival se envolveu. Os petistas costumam citar o escândalo da reeleição, em que o PSDB é acusado de subornar congressistas para aprovarem uma emenda constitucional, permitindo que Fernando Henrique Cardoso concorresse novamente à Presidência, em 1998. Os psdbistas citam o caso do mensalão, em que políticos da base do PT, na Câmara, recebiam mensalmente dinheiro desviado do caixa 2 da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Infelizmente, quando se trata de reconhecer as próprias lambanças, o silêncio é sepulcral. Nem aqueles poucos que conseguem se manter isentos no meio do tiroteio partidário escapam à disfunção cognitiva. É comum ouvirmos que o problema não seria o PT nem PSDB, mas os políticos, como um todo; como se os políticos fossem uma espécie à parte, ETs infiltrados com o intuito de corromper nossa idônea população. Nesse quesito, porém, a população não precisa de ajuda.
Lembro bem de quando fui apresentado à corrupção. Era domingo, eu tinha uns sete, oito anos de idade e almoçava na casa de um tio. Vamos chamá-lo de Arthur. Arthur era o meu parente mais rico e morava numa casa com piscina. Lá pelo meio do almoço ele contou à família, orgulhoso, como