Cocaína na Gestação
Parte 1
Consumo de cocaína durante a gestação
O consumo de cocaína durante a gestação vem chamando a atenção da mídia e dos pesquisadores nos últimos anos (Figura 1). Desde o ressurgimento do consumo de cocaína no Ocidente, a partir dos anos 80, a questão vem sendo tratada. No entanto, apenas a partir dos anos noventa que os casos puderam ser analisados com mais propriedade. A cocaína é capaz de trazer problemas ao andamento da gestação e ao desenvolvimento do feto1-4. Anomalias ou malformações causadas pela ação cocaína durante a gestação (teratogenias) também já foram detectadas entre gestantes-usuárias5. Isso mostra que a cocaína tem uma ação tóxica direta sobre o desenvolvimento fetal.
Mecanismo de ação da cocaína sobre a gestação e o feto
O principal mecanismo pelo qual a cocaína modifica o andamento da gestação e o desenvolvimento de feto é sua ação sobre a circulação6 (Figura 2). A cocaína atua no sistema nervoso central estimulando o sistema noradrenérgico. A ativação deste sistema, além de outras coisas, aumenta a freqüência cardíaca e contrai os vasos sangüíneos (vasoconstricção). Devido à vasoconstricção há uma redução da chegada de oxigênio e nutrientes para a placenta e por conseguinte, para o feto. Neonatos expostos à cocaína durante a gestação apresentam maior incidência de prejuízos ao crescimento fetal e baixo peso ao nascer7.
Figura 2: A ação da cocaína sobre a gestação e o feto. A cocaína atua sobre a secreção de noradrenalina, um neurotransmissor que provoca a contração dos vasos. Isso diminui a chegada de sangue rico em oxigênio e nutrientes à placenta e por conseguinte, ao feto. A noradrenalina também estimula a contração uterina. Para o feto, desprovido do oxigênio e dos alimentos necessários ao seu desenvolvimento, pode trazer prejuízos ao seu crescimento dentro do útero. As contrações uterinas e a redução de sangue na placenta, podem levar ao seu descolamento ou ruptura. A