Clarissa
Clarissa - Érico Veríssimo Modernismo de segunda fase Neste livro de 1933, primeiro romance de Érico Veríssimo, o gosto pelo rigor da descrição, pela minúcia da fotografia, manifesta, como característica que o acompanhará sempre, sua fidelidade à vida tal como ela é em toda a multiplicidade de variados aspectos, inclusive aqueles que se apresentam sórdidos e desagradáveis. Trata-se de uma composição realista que assegura a veracidade do cenário retratado e dos seres que nele se movimentam. O romancista não se impõe às personagens; ao contrário, prefere ver o mundo através das personagens; e isso as faz viver como gente de carne e osso. O universo de Clarissa, dependendo do ângulo em que observemos, pode ser muito limitado ou infinitamente amplo em sugestões e promessas.Na verdade, está circunscrito no estreito território da pensão da Tia Zina e sua população pequeno-burguesa consumida na luta inglória pelo ganha-pão de cada dia. Entretanto, a presença de Clarissa amplia pouco a pouco a significação desse cenário, porque a narrativa se organiza em torno de seu desdobramento psicológico, e o que de fato interessa é a sua descoberta em relação aos seres e às coisas que a cercam. Imperceptivelmente, o autor se dissimula, quase escondendo-se num segundo plano, e deixa que a revelação do mundo observado se apresente através das surpresas, dúvidas e curiosidades que preenchem a consciência de Clarissa. Assim, fica aberto um caminho que permite a passagem da simples fotografia para o romance psicológico,, de maneira que o leitor já não perceba a história como coisa "armada", sentindo-a antes como parte integrante de uma experiência vivida. A "naturalidade" do relato guarda esse atributo indispensável à grande ficção de onde nasce o verdadeiro mundo das personagens: a possibilidade de, existindo na realidade. Este segredo do