Clarice, Ela
Roberto Corrêa dos Santos
Clarice, ela
Roberto Corrêa dos Santos
O dançarino hindu faz gestos hieráticos, quadrados, e para.
É que parar por vários instantes também faz parte.
É a dança do estatelamento: os movimentos imobilizam as coisas.
O bailarino passa de uma imobilidade a outra, dando-me tempo para estupefação.
E muitas vezes sua imobilidade súbita é a ressonância do salto anterior: o ar parado contém todo o tremor do gesto.
Ele agora está inteiramente parado.
Existir se torna sagrado como se nós fôssemos apenas o executante da vida.
Clarice Lispector
Que esperava com a mão pronta?
Pois tinha uma experiência, tinha um lápis e um papel, tinha a intenção e o desejo – ninguém nunca teve mais que isto.
Clarice Lispector
Para Domingos Angotti, que se inscreveu no mesmo impacto-Clarice, e junto, em 1966, dez anos – outra vez dez, outra vez seis –, dez anos antes desta escrita à frente.
7
Nota introdutória
10
i — Leitura do conto “Preciosidade”
35
ii — Leitura do conto “A imitação da rosa”
67
iii — Leitura do conto “O crime do professor de matemática”
92
iv — Leitura do conto “O jantar”
115
v — Leitura do conto “Feliz aniversário”
141
vi — Clarice, a autora, a obra, a literatura
159
Glossário
169
Bibliografia comentada
Nota introdutória
Este livro, composto de leituras de cinco contos dos treze constantes de Laços de família, marca-se, entre outras razões, pelo fato de ter sido, no âmbito de estudos acadêmicos pós-graduados, a primeira obra crítica sobre Clarice Lispector. Sua inicial vida pública ocorreu em 1976 pelos modos de dissertação – O texto de Clarice em exame –, defendida e aprovada no Departamento de Letras da puc-Rio. Dez anos após (1986), a parte principal desse estudo foi publicada, com o título Clarice, incluindo-se na Série Lendo, da Atual
Editora, que, no ano seguinte, reeditou-o. Desde aí, e até hoje, utilizam-se com frequência seus ensaios analíticos
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