Ciências sociais
Gilberto Orácio de Aguiar *
“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra qualquer. Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura...” (Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)
Resumo: A abordagem deste artigo, a partir das ideias de Marcel Mauss sobre a construção da pessoa humana, visa destacar uma análise do uso corporal dos afro-brasileiros e como os mesmos são percebidos pela sociedade. Visa apresentar, ainda, pistas sobre a construção coletiva da cidadania a partir de uma reconstrução corporal das populações afro-brasileiras, forjando uma mudança estrutural, tendo como base a destruição do mito da democracia racial, um projeto inclusivo de educação e um projeto de desenvolvimento social e econômico que contemple essas populações. A cidadania, neste contexto, é entendida não como barganha dos governantes, mas como conquista comunitária. Palavras-chave: Populações afro-brasileiras, persona, corpo, cidadania.
Introdução
O negro, desde que foi trazido para o Brasil, escravizado, ficou reduzido a uma situação de oposição ao branco. De modo que o branco ou aquilo que lhe é relacionado é apresentado como algo bom e harmonioso, ao passo que as coisas relacionadas ao negro são vistas como negativas e ruins. O corpo do negro não é bem visto nem bem recebido por si só. Por isso aos negros são dados os símbolos das trevas, do mal, do caos, da
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Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Goiás (UCG) e doutorando em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano VI, n. 27
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imperfeição, da feiura, da má aparência, do demônio e outros. Aos brancos cabem os adjetivos e substantivos graciosos do tipo divindade, luz, bem, harmonia, beleza, sabedoria, perfeição, simpatia, e aqueles que lhe dão status e