Chico

R- Como é que você vê essa questão do racismo no Brasil? Cê se incomoda com isso? Cê percebe isso?
Chico- Ah, percebo! É claro… percebo… claramente. Percebo até mais diretamente, depois que eu… que eu… que eu… que eu… que a minha filha se casou com o Carlinhos Brown, né? E a… ah… brincando ou não, eu ouço referências o tempo todo. Hã… até mesmo na rua, né? Algum tipo de gracinha… é… agressiva, né? E as pessoas pensam um pouco que a… a… que a… primeiro as pessoas pensam que são brancas, né? Pensam que eu sou branco, por exemplo. Isso… só no Brasil que eu sou branco. Ou que minha filha é branca. E um dia eu falei que ninguém no Brasil é branco, a não ser a Xuxa… fiz uma gracinha assim… a não ser a Xuxa e se ela não casar com o Taffarel, eu falei essa… aí vai acabar… ah… os últimos brancos do Brasil. (risos) Na época… que todo mundo não sei o quê. Rapaz… você não sabe… Naquela semana, por acaso, eu fui a um restaurante… tinha doutro lado da mesa uma senhora com o cabelo pintado de amarelo… ela pensando que era branca, ela falando: “Eu sou branca! Eu!”, começando a berrar, isso num restaurante. Um restaurante supostamente chique. “Eu sou branca! Eu sou branca!” É uma coisa muito mal, muito mal resolvida… no Brasil é a… é a… a… O brasileiro não aceita o fato de ser mestiço. Não aceita mesmo. Isso é uma coisa que pega fundo. Todo mundo fala assim quando é… teoricamente, muito bem, o fulano fala: “Ah, eu tenho um pé na cozinha”, todo mundo diz: “hahaha”. Mas não tem, imagina, isso é maneira de falar, é um democrata. Ele diz que tem um pé na cozinha, na verdade todo mundo tá vendo que ele é branco… E num dá pra ser, a não ser o… o imigrante, filho de imigrante… São as famílias que tão no Brasil, famílias antigas… a minha família é uma família antiga do Brasil… do lado de pai, do lado de mãe. Vai olhar lá… Agora ficou essa mania de… de… de livros com genealogia. Aí cê vai ver, cê tem pai, mãe… avô, avós, bisavós… tem uma hora que vai olhar lá, para de aparecer o nome, vê