CERGUEIRA
Primeiro, vou falar sobre o livro em si, uma rápida resenha. Como quase todo mundo já sabe, a obra começa quando uma doença misteriosamente deixa as pessoas cegas, uma cegueira branca altamente contagiosa. No decorrer do livro, a sociedade aos poucos se dissolve, assim como os princípios morais (a começar pelo lugar onde as personagens principais da história são isoladas). A partir dai se desenvolve um cenário apocalíptico em que todas as pessoas daquela sociedade ficam cegas e passam, por isso, a precisar se relacionar de maneira diferente, seguindo princípios diferentes dos anteriores, outras regras, outras noções de verdade, logo, como diria Foucault, também outras relações de poder. No final, as pessoas voltam a enxergar e o livro termina.
Como prometi mais acima, não vou entrar em detalhes, não vou falar das características da escrita do Saramago ou de peculiaridades na construção das personagens (o fato do autor não lhes atribuir nomes e etc...). O que quero ressaltar é que o livro, através da criação de uma outra realidade, de uma produção de realidade, portanto, consegue nos fazer questionar as relações de verdade e poder da nossa sociedade. Isto é, Saramago cria uma outra realidade por meio da ficção, uma realidade em que todos começam a ficar cegos sem qualquer explicação científica, e nós, ao a observarmos, ao lermos o livro, somos capazes de refletir sobre as nossas condições de vida.
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