Censura
A história da censura na imprensa brasileira
A censura patrocinada pelo governo restringiu a imprensa brasileira desde a colonização. Seus agentes só abandonaram definitivamente as redações em 1978
Wagner Gutierrez Barreira | 01/04/2010 13h09
Em 1935, o jornalista Rodolpho Felippe dava expediente na cela 8 do Presídio Político Paraíso. Detido em "caráter preventivo" pela polícia de Getúlio Vargas, o redator-chefe do periódico anarquista A Plebe sacou de lápis, caneta azul e papel almaço e publicou o manuscrito A Cana, que, em tom satírico, relatava as condições da cadeia paulista. O exemplar único foi recolhido e rendeu ao profissional um processo no Tribunal de Segurança Nacional. A apreensão do texto é um microscópico exemplo de afronta a uma verdade universal: "Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras". É o que diz o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (1948).
Censurar a imprensa é traço de união entre governos totalitários desde a Antiguidade. "O controle do pensamento vigorou no mundo antigo, grego, romano, na Idade Média, Moderna, mas foi no século 20 que alcançou seu maior vigor", afirma a historiadora Anita Novinsky no livro Minorias Silenciadas. A história do Brasil mostra que a liberdade de expressão que prevalece hoje (leia o quadro na pág. 50) é um hiato num mar de censura. Do Descobrimento à chegada da família real portuguesa, em 1808, se proibia não apenas a circulação de jornais. Livros, tipografias e até a criação de cursos superiores eram rigorosamente vetados. Mas, desde que se inventou a restrição, surgiram também maneiras de driblá-la. O português Isidoro da Fonseca, perseguido pela Inquisição, emigrou para o Brasil e fundou a primeira tipografia local, em 1746. Fonseca teve seus bens