Em 1998, a equipe do biólogo James Thomson, da Universidade de Wisconsin, Estados Unidos, isolou e desenvolveu pela primeira vez em laboratório uma linhagem de células-tronco extraídas de embriões humanos. Foi um feito técnico e um problema ético para a pesquisa biológica. Feito, porque os estudos com essas células podem, em teoria, levar a melhores tratamentos ou à cura de uma lista quase interminável de doenças. Se devidamente cultivadas, as células-tronco embrionárias, e apenas elas, podem dar origem a todos os tecidos de um organismo, cerca de 220 tipos distintos de células que seriam a matéria-prima de novas terapias. Problema, porque a forma de obtê-las ofende a crença de parcelas da sociedade, em especial os religiosos, e, em alguns países, também as leis: as células-tronco são retiradas de embriões, que, ao ceder esse material, tornam-se inviáveis. Desde então, em várias partes do globo, há um embate moral e jurídico entre os defensores e os opositores desse tipo de pesquisa. Aos poucos, com maior ou menor grau de restrições, parece haver uma tendência de os países com ciência forte, ou minimamente estruturada, permitirem experimentos com as células genitoras. No mês passado, o presidente Lula sancionou a nova Lei de Biossegurança e autorizou o início dos estudos com células-tronco embrionárias humanas, sem, no entanto, dar sinal verde para a chamada clonagem terapêutica, procedimento permitido, por exemplo, no Reino Unido. O cardiologista José Eduardo Krieger, do Instituto do Coração (InCor), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), usa uma interessante metáfora para descrever a importância do estímulo à pesquisa nessa área. “As células embrionárias são as únicas que têm o hardware completo do computador biológico”, compara o pesquisador. “As pesquisas agora vão tentar desvendar os softwares específicos, os botões corretos, que direcionam a formação dos diversos tecidos.” Nos últimos anos, enquanto os trabalhos com