Casa da flor
Desde criança, Gabriel, de temperamento artístico pronunciado, pressentia que teria que viver sozinho para dar vazão à sua grande criatividade. Já rapaz, em 1912, começou a construção de uma casa, próxima ao lar da família: pequena, de pé-direito baixo e três cômodos apenas - sala, quarto e depósito para guardar quinquilharias. Lentamente, à medida que ia conseguindo o material, foi erguendo a casa de pau-a-pique, utilizando também, pedras para o assoalho e algumas paredes.
Sonhador, anteviu um dia, em 1923, enquanto dormia, a imagem de um enfeite que embelezava a sua casa. Que fazer ? Desistir do sonho, apagar da memória a visão tão bela que o inconsciente lhe trazia ? Como solucionar o problema de não ter recursos para comprar o material necessário, a fim de concretizar aquela visão ? Surgiu em sua mente uma idéia, que de tão bizarra fez com que muitos parentes e vizinhos passassem a olhá-lo com estranheza no início da tarefa a que se dedicou até morrer, 63 anos depois: usar o lixo abandonado nas estradinhas da região, garimpar nesses montes de detritos - de que todos se afastam - cacos de cerâmica, de louça, de vidro, de ladrilhos e de toda uma série de objetos considerados imprestáveis para o uso, tais como velhos bibelôs, lâmpadas queimadas, conchas, pedrinhas, correntes, tampas de metal, manilhas, faróis de automóveis... Sabiamente, ele comentava que fez uma casa "do nada" .
Sempre inspirado por sonhos e devaneios, passou a criar flores, folhas, mosaicos, cachos de uvas, colunas e esculturas fantásticas, que ia fixando dentro e fora da casa. Inventava luminárias com lâmpadas queimadas; nichos para proteção de