Capoeira
Construindo a história da capoeira (*)
Luiz Renato Vieira** & Matthias Rohrig Assunção***
(*) Recebido para publicação em abril de 1998.
(**) Sociólogo, professor do curso de pós-graduação em capoeira na Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília.
(***) Historiador, professor do Departamento de História da Universidade de Essex, Inglaterra.
O artigo procura examinar, a partir da vasta literatura sobre a capoeira, os mitos e as controvérsias à luz das fontes e evidências atuais procurando identificar, o que está provado, o que é apenas plausível e o que parece claramente equivocado. Procura refletir sobre a função destes mitos, mostrando que eles se relacionam com conflitos mais abrangentes que se desenrolam na cultura e na sociedade brasileira fazendo da história da capoeira uma história marcada por rupturas e contradições.
Palavras-chave: história da capoeira, Brasil, relações raciais, capoeira regional, capoeira Angola.
Hoje não é mais necessário explicar o que é capoeira. Ela foi tão divulgada, nos últimos vinte anos, que já deu, literalmente, a “volta ao mundo”. É praticada não somente em todos os estados brasileiros, mas também na Argentina, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa Ocidental, em Israel, no Japão e até na Austrália. E a lista está incompleta. A capoeira virou, depois do boxe, a modalidade de luta não-oriental de maior projeção no ocidente.
Ao mesmo tempo em que se abrem novas academias, a cada dia cresce a literatura sobre a capoeira. Já circulam várias revistas especializadas, (1) dezenas de teses acadêmicas têm sido escritas no Brasil e no exterior sobre a capoeira (2) e outros tantos livros sobre o tema são publicados a cada ano. No entanto, a história da capoeira, tal como ela é contada nas academias, ou mesmo em muitos livros, continua veiculando uma estranha mistura de mitos e semi-verdades que se mostra muito reticente à auto-correção. E raro