Capitalismo
Cristina Adams Doutoranda do Departamento de Ecologia – USP
Não há extensão plana despovoada, mesmo na mais agitada linha dos costões voltados para o mar alto...As paredes brancas das casas, alinhadas geralmente com a frente para o mar, destacando-se do verde escuro das árvores agrupadas ao redor e refletindo-se em dias ensolarados na água do mar, eis uma associação inseparável de elementos caracterizadores da orla costeira. (França, 1954: 89-92) RESUMO: A caracterização, na literatura, das comunidades caiçaras como pescadoras, tradicionais, isoladas, auto-suficientes, primitivas e dotadas de um referencial marítimo é discutida com base numa perspectiva diacrônica. Ressalta-se o papel transformador da chegada do barco a motor e da pesca embarcada para as comunidades caiçaras, que as levou a abandonar total ou parcialmente as atividades agrícolas. Esta mudança é inserida num contexto histórico mais amplo, que considera essa passagem como um dos inúmeros ciclos econômicos pelos quais essas comunidades teriam passado. Criticou-se também a falta de uma abordagem ecológica séria e de uma base empírica confiável na literatura, o que muitas vezes tem levado a considerações na linha do discurso ecológico romântico, que tendem a vincular a imagem dos caiçaras ao mito do “bom selvagem”. Argumenta-se que a falta de abordagens multidisciplinares reduz a expressão da riqueza cultural das populações caiçaras. PALAVRAS-CHAVE: caiçaras, antropologia ecológica, populações tradicionais, bom selvagem.
CRISTINA ADAMS. AS POPULAÇÕES CAIÇARAS E O MITO DO BOM SELVAGEM
Caracterização
O termo caiçara tem origem no vocábulo Tupi-Guarani caá-içara (Sampaio, 1987), que era utilizado para denominar as estacas colocadas em torno das tabas ou aldeias, e o curral feito de galhos de árvores fincados na água para cercar o peixe. Com o passar do tempo, passou a ser o nome dado às