Cap 01 12
MUNDO DO TRABALHO: CONSTRUÇÃO
HISTÓRICA E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Livia de Oliveira Borges e Oswaldo H. Yamamoto
Ao final deste capítulo, espera-se que o leitor seja capaz de:
Constatar a complexidade e o dinamismo do que se pensa sobre o trabalho
Identificar diferentes concepções sobre o trabalho
Relacioná-las às condições históricas em que surgiram
Compreender influências dessas concepções nas relações de poder
Elaborar e sustentar suas posições sobre a influência de cada uma dessas concepções na atualidade
C
onta Homero, na Odisseia, que, por ter desafiado os deuses, Sísifo foi condenado a empurrar eternamente montanha acima uma rocha que, por seu próprio peso, rolava de volta tão logo atingisse o cume. Albert Camus (2000) propôs uma instigante interpretação para esse mito.
Para ele, o auge do desespero de Sísifo não está na subida: o imenso esforço despendido não deixa lugar para outros pensamentos. A descida, ao contrário, não exigindo esforço, é o momento em que Sísifo é confrontado com seu destino: o aspecto trágico é conferido pela consciência de sua condição.
Não sem razão, o mito de Sísifo tem sido considerado o epítome do trabalho inútil e da desesperança. Tripalium, trabicula, termos latinos associados à tortura, estão na origem da palavra
“trabalho”. Mas trabalho deve ser necessariamente associado a sofrimento? Ou seria lícito pensá-lo, em uma perspectiva oposta, como sendo aquela atividade essencialmente humana em sua relação com a natureza, configurando-se como protoforma do ser social? O trabalho sobre o qual a maioria das vezes falamos é um trabalho inútil?
Muito provavelmente, todos nós, no cotidiano, ouvimos frases como “primeiro o traba-
lho, depois o prazer”. Essa frase, ao mesmo tempo que exalta a importância do trabalho, tomando-o como uma prioridade de vida, supõe-no oposto ao prazer, como se este existisse apenas fora do âmbito laboral. Da mesma forma, temos amigos que contam o que fazem em seus empregos com orgulho.