Cangaço
O cangaço foi um fenômeno bastante complexo, fomentado no bojo da política coronelista, incentivado e utilizado por ela até onde lhe foi útil. Entretanto, é preciso lembrar que os cangaceiros não se encontravam apenas sob as ordens do coronelato, nem tampouco defendiam unicamente os interesses desta elite, eles também estavam a serviço de seus próprios interesses, possuíam seus próprios motivos para praticar suas ações. E se por ventura agiam em nome de algum coronel era em troca de algum benefício.
Em contrapartida não se pode cometer o equívoco de considerar o cangaceirismo como uma revolução de caráter social, pois, como já foi colocado anteriormente, muitas vezes os bandos atacavam e aterrorizavam pessoas da mesma origem que eles. O cangaço se tratava de um fenômeno de banditismo de controle social, mais especificamente de controle das classes pobres. Não tinha como objetivo contestar a ordem social ou o poder dos latifundiários, que de certo modo até eram reconhecidos. Muito antes, era a rebelião institucionalizada pelos coronéis a fim de impedir uma revolta de maiores proporções.
De qualquer maneira, é fundamental situar o cangaceirismo como um fenômeno tipicamente nordestino e que:
“(...) surgiu, no enquadramento social do sertão, fruto do próprio sistema senhorial do latifúndio pastoril, que incentivava o banditismo, pelo aliciamento de jagunços pelos coronéis como seus capangas (guarda de corpo) e, também, como seus vingadores. (...) Nessas condições, são condicionamentos sociais do próprio sistema que alentaram e incentivaram a violência cangaceira.” [1]
O cangaço durou até a década de 40, quando finalmente foi extinto. Entretanto, permanece vivo no imaginário popular, cercado de mitos e lendas, cantado pelos poetas de cordel, lembrado com vigor através, principalmente, da figura emblemática de Lampião, que ainda causa admiração por suas façanhas e mantém acesa polêmica em torno do heroísmo e da perversidade