Camilo Castelo Branco A Brasileira de Prazins
Fonte:
CASTELO BRANCO, Camilo. A brasileira de Prazins : cenas do Minho. 2.ed. Lisboa [Portugal] : Ulisseia,
[1984?]. (Biblioteca Ulisseia de autores portugueses).
Texto proveniente de:
Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo
Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Texto-base digitalizado por:
Tito Lívio Rodrigues dos Santos Mota – Montpellier/França
Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas. Para maiores informações, escreva para <bibvirt@futuro.usp.br>.
Estamos em busca de patrocinadores e voluntários para nos ajudar a manter este projeto. Se você quiser ajudar de alguma forma, mande um e-mail para <parceiros@futuro.usp.br> ou
<voluntario@futuro.usp.br>.
A BRASILEIRA DE PRAZINS
Camilo Castelo Branco
Introdução
Entre as diversas moléstias significativas da minha velhice, o amor aos livros antigos – a mais dispendiosa – leva-me o dinheiro que me sobra da botica, onde os outros achaques me obrigam a fazer grandes orgias de pílulas e tisanas. E, quando cuido que me curo com as drogas e me ilustro com os arcaísmos, arruíno o estômago, e enferrujo o cérebro numa caturrice académica.
Constou-me aqui há dias que a Srª Joaquina de Vilalva tinha um gigo de livros velhos entre duas pipas na adega, e que as pipas, em vez de malhais de pão, assentavam sobre missais, O meu informador denomina missais todos os livros grandes; aos pequenos chama cartilhas. Mandei perguntar à Srª Joaquina se dava licença que eu visse os livros. Não só mos deixou ver, mas até mos deu todos – que escolhesse, que levasse.
Examinei-os com alvoroço de bibliómano. Eles, gordurosos, húmidos, empoeirados, pareciam-me sedutores como ao leitor delicadamente sensual se lhe afigura a face da mulher querida, oleosa de cold-cream, pulverizada de bismuto.
Havia sermonários latinos,