Breve Ensaio sobre Trabalho Escravo e o Dano Moral Coletivo
Fato é que, quase 125 anos depois da penada libertária ainda trava-se uma enorme luta contra a exploração do indivíduo sujeitado a condições “análogas” aos escravos. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, estima-se que no mundo haja ao menos 12 milhões de pessoas em situação de trabalho forçado, dos quais mais de 80% estão situados no hemisfério sul do planeta que, não por coincidência, é onde se encontra a maioria dos países emergentes e subdesenvolvidos. Só na América Latina, são 1,3 milhão, e no Brasil esse número é calculado em torno de 25 mil pessoas em condições degradantes de trabalho.
Logicamente, tais números são apenas estimativas que muito provavelmente não condizem com a triste e mascarada realidade. Pelo viés clandestino e ilegal do tema, pelas diferenças técnicas de contabilização, pelos fluxos migratórios de escasso controle e pela primazia do status de um Estado zeloso aos Direitos Humanos ante aos olhos dos outros Estados, é muito difícil, se não impossível, apontar um número concreto e fiel.
A realidade é que milhares de pessoas em todo Brasil estão sendo escravizadas neste momento – “das fazendas de gado na Amazônia, passando pelas carvoarias do norte de Minas Gerais e Goiás e os laranjais no interior de São Paulo às pequenas tecelagens do Bom Retiro e Brás, bairros da capital paulistana”[i]. O trabalho escravo contemporâneo se dá num outro sistema, que encapuza as antigas senzalas e navios negreiros, mas que ainda ignora a dignidade do ser humano,