brasilia
A doença dessa cidade é não envelhecer. Aqui, falo de arquitetura. Brasília existe, estranhamente, entre um parto que não terminou e um funeral que se antecipa. Andando pela cidade, topamos com andaimes e implosões. Aparecem como monumentos perenes e ações intrínsecas à capital. Coisas da cultura brasiliense. É tão normal, que o visitante distraído pensa fazerem parte da arquitetura e engenharia locais. Difícil é dizer, por vezes, se estamos diante de uma nova obra ou de iminente demolição. O mais comum é que seja a implantação de um novo revestimento, barato ou suntuoso, na fachada adorável das construções originais, antes que alcancem a poesia de serem chamadas de antigas.
A cirurgia estética que, diariamente, se imputa aos prédios de uma cidade tão jovem, é imoral. São reformas desnecessárias, que tão somente a sobra gorda nos orçamentos, em cofres públicos e particulares, poderia justificar ou inventar alguma razão. E, diga-se de passagem, são reformas que transformam as paredes de Brasília num grande banheiro, forrado de azulejos e pastilhinhas de extremo mau gosto. E são tantos os espelhos assentados nos prédios que, de uma hora para outra, nossos blocos se transmutam em configurações pós-modernas, quiçá, pós-futuristas. E, igualmente, de uma hora para outra, vem a óbito inúmeros passarinhos, na travessia do ilusório céu de vidro dos edifícios que enfeiam a cidade. om tantos espelhos, não seria demais afirmar que vivemos uma civilização narcisista, mas que, cega de vaidade, orgulho e poder, não se enxerga, porque não consegue ver o tesouro arquitetônico que tem diante dos olhos, ao alcance das mãos e debaixo dos pés. Sem o menor pudor, seguem em curso as obras no interior dos condomínios, chefiadas por sabe lá que cidadão metido a síndico, engenheiro ou arquiteto e que, talvez, nunca tenha se dado ao trabalho de correr os olhos sobre um croqui dos vencedores do Concurso Brasília.
É triste a