Brasil império
A alternativa republicana e o fim da monarquia1 Renato Luís do Couto Neto e Lemos
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Considerações iniciais
É, já, truísmo afirmar que a perspectiva republicana esteve presente em praticamente todos os movimentos políticos brasileiros anteriores a 1889.2 Sua transformação em movimento organizado, entretanto, tem como marco dezembro de 1870, quando surgiu o Partido Republicano. Também formalmente, seu término é delimitado pela derrubada da monarquia em novembro de 1889. Entretanto, a percepção do significado histórico-social do republicanismo brasileiro impõe que não se desprezem circunstâncias e processos anteriores e posteriores a tais marcos. Uns, por ajudarem a explicar elementos que poderiam ser apontados como suas raízes. Outros, por remeterem a expressões maduras de conteúdos sociais de cuja implantação o republicanismo foi um dos principais meios. A república nunca foi, no Brasil, um projeto redutível ao interesse de alguma classe social específica. O seu advento, além disso, nada teve de inevitável. Fosse um pouco mais flexível o núcleo dirigente da monarquia, aceitando a alternativa federalista, e possivelmente a república não teria começado a se tornar realidade em 1889.3 Pode-se, mesmo, afirmar que a república foi o caminho historicamente possível para a
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Agradeço a Carla Silva Nascimento, pela assistência de pesquisa, e a Angela Moreira Domingues da Silva, José Alves Dias e Rogério Rosa Rodrigues, pelas indicações bibliográficas sobre o republicanismo na Bahia e no Espírito Santo. 2 Ver, por exemplo, José Ênio Casalecchi. O Partido Republicano Paulista (1889-1926). São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 34. Para uma discussão desta tese, ver Leôncio Basbaum. História sincera da república. Das origens a 1889. 4ª. ed. São Paulo: Alfa-Omega, 1975-1976, pp. 181-194. 3 Décio