Blues
Trabalharemos o blues como uma narrativa, partindo da análise de Paul Ricoeur desenvolvida em “Tempo e Narrativa”. Entenderemos assim a narrativa como meio pelo qual o tempo se torna tempo humano, “na medida em que desenha as características da experiência temporal”1. No momento em que optamos por recortar, de toda a história do gênero, a transição do meio rural para o urbano nos Estados Unidos da América, problematizamos nossa linha interpretativa, a do blues como uma narrativa. Ora, se o blues é uma narrativa como explicar que, mesmo sofrendo alterações estruturais melódicas, harmônicas e temáticas o gênero possa ser considerado o mesmo, ou melhor, a mesma narrativa? Buscamos nossa resposta pela análise de canções e pelo movimento migratório que leva com si a cultura do blues. É nesse conceito em que encontramos a chave para nossa interpretação, cultura. Cultura como “o conjunto de processos sociais de produção, circulação e consumo da significação na vida social.”2 Verificamos nas canções produção, circulação e consumo da significação nos mesmos moldes das raízes, a narrativa, mesmo com alterações, permanece blues.
Antes de descrever o movimento do blues como uma expressão cultural do meio rural que se desloca para o eixo urbano, iremos explorar a complexidade do blues no espaço rural estadunidense. Entendemos o blues “como símbolo de uma tristeza infinita... Blues como manifestação de uma condição de vida. Blues como forma de liberar os sentimentos.”3
Então, após essa descrição podemos começar a estabelecer a relação do modo de vida dos negros do sul com os relatos cantados e tocados nas canções do gênero.
Blues no seu espaço rural.
Depois dessa pequena introdução, partiremos para a análise da grande migração como expoente para uma transformação do blues, essa passagem para o eixo urbano desde o inicio do século até meados do mesmo. Vários são os fatores que podem servir de base para descrever as migrações dos negros para o norte, ou